MUNDIAL - CRÓNICAS DE BASTIDORES

por RTP
João Miguel Nunes - RTP

Passou quase uma semana desde que cheguei de Doha e ainda estou em fase de adaptação.

Durante as grandes competições vivemos de forma única e numa realidade diferente. Dormir é difícil (três a quatro horas por dia). O ritmo é frenético, entre os diretos e a recolha de material para reportagem.

Vivemos em constante agitação, a correr de um sítio para o outro, assombrados pelo stress de falhar. Os horários deixam de existir como os conhecemos. O almoço, por vezes, é uma miragem e o jantar acontece quando é possível.

Todo este contexto torna os nossos dias especiais.

Nestas alturas, recordo-me sempre das técnicas de reportagem, em especial da imersão. Nunca tenho teorias na mente quando estou a trabalhar, mas a verdade é que mergulho constantemente nos locais. Ligo-me com a cultura de cada região. Sinto-me parte. E depois sinto falta e saudades. Saudades dos sitios, das ruas, dos cheiros, dos sons... das pessoas.

Recordo com melancolia as caminhadas no Souq Waqif, a agitação, a correria constante, o barulho dos povos Árabes a entoar cânticos de futebol, o chamamento para a oração, o intenso perfume das especiarias.

Não apago da memória o fim do dia e o pôr do sol. Uma gigante bola de fogo, laranja, a desaparecer ao cair do pano.

Lembro-me do Sultan, amigo do Nepal, que todos os dias, com um sorriso, nos trazia o pequeno almoço. Ficava sempre a falar com quem estava na mesa com uma simpatia adorável.

Não vou esquecer a Fátima e o Azim. Estavámos de mesa colada, ao almoço. Começámos a falar sobre as nossas culturas e religiões e no final eles fizeram questão de nos oferecer a refeição.

Não me esqueço da força nossa equipa, sempre a rir, unida para qualquer direto. Em Katara, ou no The Pearl. E tenho na memória o Cervan, de máquina na mão, a registar cada segundo da nossa aventura.

Tenho saudades das pessoas com quem nos cruzámos por momentos e daquelas que só encontramos quando partimos para estas missões tão especiais.

Algumas poderemos voltar a ver, outras farão parte de um momento único, mas efémero, que guardaremos no mais belo álbum da memória.
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